quinta-feira, 10 de julho de 2008

Entraste por aquela porta. O átrio gelado fez-te feio. As paredes brancas reflectiam em ti aquela luz medíocre que te pronunciou as olheiras e distorceu o tom da tua pele. Na sala sentaste-te como se já conhecesses aquela casa tão bem, há tanto tempo. Acendeste um cigarro e falaste. A minha cabeça não te ouviu. Sei que disseste alguma coisa interessante, mas não me preocupei, mais cedo ou mais tarde repetirias a tua estória. Na mesa de vidro arrumei um lugar para mim, no meio dos livros, e servi-me do jantar. Comi em silêncio enquanto acendias cigarros sucessivos e contavas mais estórias. Olhava pouco para ti, acenava de quando a quando e deixava-te falar, falar, falar...

Passou uma, duas horas e eu permanecia quieta. Levantei-me, dei-te um beijo e levei-te para o quarto pela mão. Depois de termos estado juntos em silêncio, fumaste mais um cigarro. Era o último. Quando o esmagaste contra o cinzeiro foi a tua vez de ficar calado, não houve mais estórias, mais palavras, não tiveste mais nada para me dizer. Arranjaste-te e saíste por aquela porta. Não quis is ver se tinhas ficado feio outra vez e se a luz medíocre te tinha pronunciado de novo as olheiras.

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