sexta-feira, 4 de julho de 2008

Relembrar a ficção

Diferente de quando a conheci, a cidade apareceu-me novamente, solarenga, iluminada, menos colorida. As ruas estreitas abriam-se em igrejas, as obras dos mestres desvendavam-se no mármore resplandecente e polícromo. Sentados nas escadas daquele átrio, sorrindo, palrando, lembrando as histórias daquela vez, daquele dia também ali, já foi há algum tempo mas ainda ali estávamos, uma imagem de nós deixou-se ficar para trás quando nos levantámos e fomos embora.

A textura da calçada nos sapatos, que batem aquelas pedras velhas, muito velhas. O sol está demasiado quente, vamos ficar à sombra, vamos caminhar pela sombra. As paredes estão sujas, não te encostes, sujas e riscadas. Ouviam-se as pessoas a falar nas outras ruas, ouviam-se os pés, mas naquela rua não estava ninguém, só nós que a percorríamos para encontrar as outras, para nos juntarmos à multidão que ecoava nos vidros das janelas das casas que se erguiam ao nosso lado.

Todas as caras eram outras que não conheçia, todas as bocas se abriam numa língua que não conheçia, os pés continuavam a descobrir para onde queríamos ir, os braços suados tocavam-se entre a multidão, tornava-se impossível os braços não se tocarem, está tanta gente aqui. Não te consigo ouvir, só a outra língua e os sapatos a bater nas pedras, arre! ninguém tem cuidado nem se desvia, o sol estava tão brilhante e via mal para a frente, via mal quem se aproximava, onde estás?, agarrei-te a mão.

Fugimos ali à direita, e estávamos de novo na rua sem ninguém, não percebo porque não há ninguém aqui. Encostamo-nos à parede, já não importava que estivesse suja e deixamo-nos cair no chão para saborear a multidão através dos reflexos dos vidros das janelas das casas que se erguiam ao nosso lado.

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